sábado, 24 de outubro de 2009

trechos de um ensaio 1

Cadeira ao centro, objetos ao redor e Laura surge a passos marcados. Digo: sente-se e conte-me uma história absurda, a cada estalada dos meus dedos insira algo totalmente diferente nessa história... nomeamos isso de ALHO [não queiram saber como] e os alhos começaram a temperar nosso encontro... kkkkkkkkkkkk


"Como o pensar junto faz toda a diferença e como o saber dividir 'o pensar ' também faz. Não se preocupe com o que eu me preocupo, apenas internalize." e Laura dá o ar e prazer de sua graça de forma espontânea, alegre e intensa.

_ pergunto: o que vêm depois de "... promissoras propostas..." (com a mesma intenção de Laura, afinal já está cravada nos meus ouvidos) e Laura, com seu andar esquisitinho fala, fala, fala...

_ "Lu eu tô com uma dor de cabeça", ela disse. E eu pensei: putz, então a dor vai piorar, afinal pensei em passar e repassar cenas, discuti-las, refaze-las. E não é que com dor a coisa fluiu.

... é, um só ensaio pode fazer toda a diferença.



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

sobre elas.

Laura é uma, uma é ela, ela é aquela.
são muitas, são todas, são tantas.
sou eu, é tu.
posto hoje um texto do nosso querido amigo Emerson, que não é sobre nem para Laura, mas bem que poderia ser......


MIGALHAS

Ela era garçonete. Ela era mãe.Ela foi menina. Ela foi só esperança.Ela já serviu para outro tipo de coisa.Ela já foi outra pessoa.E foi cozinhando, anotando pedidos e servindo outros tipos de pessoas que ela sentia seu estômago doer. E olha que não era uma dor qualquer. Era um dor que vinha como uma coceirinha que começava a esquentar e parava. E começava mais intensa e incômoda e parava.E começava e parava. E começava e parava, até ela ficar extremamente irritada.- Deve ser úlcera, gastrite... come alguma coisinha menina! Dizia o patrão cada vez que a moça se queixava.Ela, a garçonete, não pensava em outra coisa. Passava a mão em uma migalha de pão e enfiava na boca. Era um alívio! Minutos depois a dor voltava.- Come alguma coisa mulher! Dizia o patrão.Ela, que era mãe, sabia que com a fome não se brincava. Então, passava a mão em uma ou duas batatinhas fritas, enfiava na boca e comia. Mas não estava com fome. Era um alívio... um meio alívio. E a dor começava outra vez e ela comia. E não estava com fome. E comia. E vinha a dor e o patrão dizia:- Come minha filha, come!Ela, que já tinha servido para outro tipo de coisa, comia e comia e comia. E não é que a bendita dor não passava!Ela, que já foi outra pessoa, se olhava no espelho e o espelho olhava para ela. E o que via? Via que estava gorda, mas gorda, muito gorda. Estava nutrida, rechonchuda, entupida, untuosa... Na verdade estava cheia... muito cheia.Ela, que foi só esperança, ainda sentia bem lá no fundo, bem além da dor, um vazio. Um vazio inexplicável na alma.E a dor?A dor continuava a ser sentida do mesmo jeito.