MULHER NO ESPELHO
Virginia Woolf
"Afinal, ei-la ali, no salão. Deteve-se. Ela parou em pé junto à mesa. Ela parou completamente imóvel. De imediato o espelho começou a verter sobre ela uma luz que parecia pregá-la; que parecia um ácido que corrói o não-essencial e o superficial e deixa apenas a verdade. Era um espetáculo encantador. Tudo imanava de Isabella - nuvens, vestidos, cesto, diamante -, tudo o que fora chamado de planta rasteira e convólvulo. Eis a dura parede embaixo. Eis a própria mulher. Ela se erguia nua naquela luz impiedosa. E nada havia. Isabella estava completamente vazia. Não tinha pensamentos. Não tinha amigos.. Não cuidava de ninguém. Quanto às cartas, eram todas contas. E enquanto ali estava, velha e angulosa, jaspeada e coberta de rugas, com o seu nariz arrebitado e o pescoço vincado, ela sequer se deu ao trabalho de abri-las.
As pessoas não deviam pendurar espelhos nas suas salas."